“A maior virtude é a obediência e o maior pecado é a rebeldia.”
Erich Fromm
Saber exatamente de que precisamos é um questionamento que o filósofo grego Sócrates se dedicou nos últimos anos de sua vida.
Para Sócrates, para reconhecermos o nosso modo de ser, o lugar que ocupamos no mundo e nossas necessidades, é preciso nos conhecer.
Assim fez o seguinte questionamento que ficou conhecido: a célebre frase: Conhece-te a ti mesmo.
Esse pressuposto nos ajudaria a ter compreensão sobre nós mesmos, para assim entendermos o nosso papel no mundo, na sociedade e na cultura a qual vivemos.
Mas muita água rolou de lá pra cá.
Muitos povos, muitas culturas deixaram, cada um a seu tempo e ao seu modo, sua forma de vida.
Mas nós não precisamos ir tão longe. Basta apenas nos lembrar de nossos pais ou dos nossos avós, e fazer uma simples comparação com as necessidades deles e das nossas.
Eles também tinham suas necessidades, seus desejos, em adquirir, tomar para si.
Entretanto, além do anseio pelo objeto, havia também o poder de compra que, para uns era mais tranquilo, para outros, bem difícil e bastante limitado.
Alguns se empenhavam com o próprio recurso. Pegavam o dinheiro e trocavam pela mercadoria, outros, todavia, se empenhavam apenas com a palavra.
E como essa palavra valia. Não havia capital, nota promissória, cartório, mais poderosos do que a palavra de um pai de família, de uma mãe de família.
E o comerciante não se preocupava, ao contrário, entregava a mercadoria feliz.
Eu mesma já presenciei esse comércio na varanda da minha casa.
Os mascates chegavam com os tecidos, outros com utensílios domésticos e para complementar a grande aquisição: a enciclopédia Barsa e seus intermináveis 22 volumes.
E todo mês lá estavam eles para receber. Alguns traziam notas promissórias outros, como disse, tinham a palavra, daquele culto senhor Antônio, meu pai.
Mas isso foi no tempo da vovó. Hoje a conversa é outra.
Qual a diferença entre querer e precisar?
Há duas questões:
1. por que o homem (no sentido amplo da palavra: homem, mulher, a humanidade) precisa de tanta coisa ao mesmo tempo? E,
2. por que os objetos não duram tanto, e há sempre uma troca interminável?
Em nossa sociedade, a necessidade de comprar determinados objetos é tão grande, tão essencial que o homem deixa de ser definido como tal e passa a ser mero instrumento de consumo.
Vivemos neste paradoxo: se para muitos é difícil distinguir o que quer do que realmente precisa e, para aplacar tamanha imposição do consumismo, passa a consumir mais.
Hegel, filósofo alemão século XVII, percebeu que havia um esforço do homem no processo de desenvolvimento de seu pensamento.
Trocando em miúdos bem pequenos, para Hegel, a consciência de si diz sobre a auto avaliação que cada indivíduo faz de si mesmo, do que pensa ou do que deixa de fazer.
É uma avaliação introspectiva; quando o homem volta para si para buscar a “verdade” de si mesmo.
Trazendo essa ideia aos dias atuais, podemos perceber que muitas vezes quando dissemos “eu mereço” aquele vestido, aquele carro, aquele eletrodoméstico, não deixamos de ser menos consumistas.
O fato de gostarmos de nós mesmos, e pensar que merecemos, é puro desejo e não necessidade.
É o eterno dualismo entre ser e ter.
Como definir prioridades e chegar ao equilíbrio? É possível?
Seguindo ainda o pensamento filosófico, Ser e Ter são dois modos de existência.
Ter refere-se a coisas, Ser à experiência.
Vou me ater apenas ao Ter, ok?
No modo Ter, a felicidade consiste meramente na aquisição, no poder. De maneira que, quando o indivíduo perde o que tem, ele sente-se um derrotado.
Para esse homem, quanto mais ele tem, mais seguro e mais protegido ele se sente.
E quando perde, sentimentos conflituosos como medo, insegurança tomam conta dele.
Nesta sociedade, na qual se repousam plenamente o lucro e o poder, como chegar ao equilíbrio?
É perfeitamente possível chegarmos ao equilíbrio. Para alguns vai levar mais tempo do que para outros. O certo é que sim, o equilíbrio é possível.
Uma das propostas mais difundidas por psicólogos é a de que devemos ter consciência do que estamos a fazer.
Ou seja, se comprarmos por emoção, é importante que saibamos o que nos leva a isso, e não permitir que o consumo se transforme no remédio que vai curar essas emoções.
É sabermos distinguir desejo de necessidade. Assim, alcançaremos a consciência de nossos atos.
O que é uma compra inteligente?
É fazer uma compra com economia, com automação, sem impactar o orçamento.
É comprar de maneira inteligente e racional. Observe:
1. entender nossos hábitos financeiros. Se o que estamos prestes a comprar não vai impactar de forma negativa nosso bolso.
2. fazer uma lista: de um lado quais são nossas despesas fixas e de outro o que gastamos aleatoriamente, quando vamos à padaria, ao cabeleireiro etc.
3. termos sempre dinheiro poupado, guardado para qualquer emergência.
4. termos uma boa relação com o a nossa grana,
5. empenhar-nos a fim de termos uma boa educação financeira, e
6. o essencial: usar nosso dinheiro com sabedoria.
Agindo assim, saberemos exatamente o quanto podemos gastar e, acreditem, até investir num eletrodomésticos melhor, num carro mais novo ou zero e assim por diante.
A compra inteligente nos permite comparar custo/benefício, qualidade dos produtos e a evitarmos gastos desnecessários.
Não podemos apenas e tão-somente reproduzir os padrões da sociedade de consumo.
Acima de tudo, precisamos compreender até que ponto somos iludidos e como essa ilusão interfere na nossa individualidade, na nossa liberdade.
Talvez os mais jovens levem mais tempo para absorverem esses conceitos.
Sabemos como isso é difícil.
E nunca permitirmos que o dínamo propulsor nos imponha nem nosso modo de ser, nosso modo de viver, nosso modo de pensar.
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